Sobrevoando Buenos Aires uma característica nos impactou
logo de cara: o desenho ortogonal. Centenas e centenas de ruas ligadas por
quadras em perfeitos ângulos de 90 graus! Aquele organização espacial nos
anunciava o quanto seria tranquilo o nosso processo de reconhecimento de área.
Construções perfeitamente organizadas contrastavam, ora ou outra, com uma vasta cobertura
verde, fazendo uma mescla muito linda de se ver. Aterrisamos anciosos, enquanto naquele saguão
lotado, nos esperava um grande irmão: Dani Cottiz. Aquela figura engraçadíssima
e afetuosa despontou na multidão com um enorme sorriso. Vestia uma camiseta
que dizia "Capoeira" e tinha uma pequena bandeira do Brasil. Aquele
singelo gesto de boas vindas, com um apertado abraço nos fez, literalmente, sentirmos em casa.
Entre gargalhadas, muito portunhol, tomamos o carro e seguimos para
o centrão de Buenos Aires: o famoso Obelisco, Teatro Colon Evita Peron....é "hermanos" entramos no clima. Impossível não se envolver com essa cidade logo de cara!
Em Buenos Aires tudo acontece no centro. Chegamos na bela Av. Santa
Fe, onde passaríamos os próximos dias.
Preocupado em que ficássemos mais a vontade, nosso amigo nos
ofertou com todo carinho um apartamento no exclusivo no mesmo prédio em que
morava. Assim, arriamos as malas e depois de uma bela ducha seguimos para comer
em um dos seus redutos preferidos , o famoso El Cuartito.
Caminhamos por 2 ou 3 quadras até a Calle Talcahuano. Essa
simpática pizzaria inaugurada em 1934 e um ambiente super tradicional, segredo dos portenhos. A decoração com a temática de futebol, quadros
antigos, mesas de madeira criam um clima de descontração que nos identificamos
muitíssimo.
Para abrir os serviços, Dani nos anfitriou com um belo
Moscato (especie de vinho leve e adocicado), que parece ser parte dos costumes das pizzarias portenhas.
Essa deliciosa bebida envolve um ritual ou um rito como
dizia nosso amigo: moscato, gelo, água gasosa e novamente um "pingado" de moscato. Assim
começou a nossa tarde no El Cuartito: moscato, empanadas e boa conversa.
Aliás vale salientar que em BA a empanada é muito típica! Experimentamos
exemplares em todo canto, mais tarde diremos qual foi a nossa "top one" ;)
A empanada para eles, não é a mesma que conhecemos.
Empanada na argentina é uma espécie de salgado com formato de pastel e massa
de esfiha, comemos alguns com massa folheada também. Tradicionalmente ela é feita com carne e é ligeiramente apimentada.
Logo depois degustamos o que se tornou uma "obsessão
gastronômica" ao longo da viagem: a fugazzeta de mozzarela, azeitona e cebola. Só
de lembrar o estomago ronca. :/
Para completar essa farra calórica, nos rendemos a uma
sobremesa igualmente típica, que apelidamos de "trio parada dura": pudim, doce de
leite e chantilly em um só combo.
Dali voltamos caminhando (ainda bem...) para a Avenida 9 de julho, onde em um
edifício garagem, pegaríamos o carro para continuarmos o passeio.
Seguimos pela enorme avenida Figueroa Alcorta, ao som de Mano Chao. Encantados com a arquitetura,
os espaços públicos geométricos, toda composição da cidade é realmente fantástica. Paramos
em frente a Faculdade de Direito onde Dani
se graduou, mas do que isso, como ele próprio diz: "por onde ele pode mudar
toda sua vida". Um edifício belíssimo neoclássico do ano de 1949 com um enorme passeio público rodeado de área verde e espaços abertos o deixam ainda mais pleno e
bonito. Sentimos o quanto é especial essa lugar para nosso amigo, subimos uma pequena ponte acima da avenida ( a "Puente Peatonal"), em um momento raro de silêncio. O olhar de Dani viajou no tempo e simplesmente suspirando disse: "irmãos,isso aqui mudou tudo". Dali avistávamos boa parte da avenida, a Recoleta
a esquerda, o Museu de Belas Artes, o Modena Design, a linda Plaza Jose de Urquiza e à direita a bela e reluzente "Floralis Genérica". Esse monumento do artista argentino Eduardo Catalano se tornou um dos ícones de BA: uma enorme flor de alumínio e aço. De um lado da Faculdade, a Flor de aço; do outro, a flor da vida. Uma arvore com uma copa densa e florida. Essa imagem
ficou.
Nesse mesmo dia, nosso amigo nos levou até Haedo para conhecermos a casa onde ele nasceu e onde até hoje vive a sua família. Haedo é uma pequena cidade da Argentina, localizada na província de BA, ou seja na região metropolitana. Nesse encontro pudemos conhecer Pedrito e Pochita, seus pais, um lindo casal que vive juntos a mais de 60 anos e a sorridente Analía, sua irmã. Essa família nos recebeu com todo afeto. Sentamos a sombra da parreira e tomamos um mate juntos. Compartilhar o mate é algo muito singular na cultura deles e assim o fizeram conosco. Nos sentimos muito especiais. Percebíamos todo esforço que faziam para compreender nosso português, falávamos lentamente e escutávamos atentamente também. E a comunicação fluiu, com o sábio Pedrito disse: " cuando se desea entender, es posible."
Foi um lindo final de tarde, cheio de lições e emoção... mas esse momento merece um post exclusivo: Pedrito e Pochita são uma história a parte nessa viagem. Sabe, aquelas pessoas que você sente que estava destinado a conhecer? Pois é.