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quarta-feira, 12 de março de 2014

Trip Surf - Parte VII- Taperoá, Cachoeira do Paripe e Cachoeira do Tremembé.


Às margens do canal de Salgado está localizada a pequena cidade de Taperoá. Vimos a placa na estrada e resolvemos entrar despretensiosamente... e que agradável surpresa nós tivemos!

Cidade simpática e organizada, de um povo extremamente cordial. O clima é de "cidadezinha do interior mesmo" ! Praçinha, coreto, pessoas sentadas na rua conversando, mulheres na janela vendo o tempo passar...



Ao entrarmos na cidade seguimos a placa que indicava o pier. Chegamos a uma linda praça: banquinhos pintados cuidadosamente com detalhes em vermelho, bem arborizada, árvores de topiaria, uma pizzaria e uma ponte que levava ao pier. Paramos o carro e fomos caminhar pela praça. Os pequenos pularam eufóricos do carro! Ventava muito e como não conhecíamos a região, deixamos para remar no dia seguinte. Por sorte, havia uma pousada bem em frente a essa praça chamada BelaVista. Alguns senhores sentados na porta conversavam e nos indicaram uma entrada lateral.

Lá conhecemos o proprietário, o simpático Dilson, que nos tratou muitíssimo bem. Apesar de não possuir estacionamento, o mesmo se disponibilizou a guardar nossas pranchas na recepção da Pousada.

Passamos uma noite agradável numa pizzaria em frente a Pousada; um telão com muitos shows de samba divertia os locais, nos pareceu um ponto de encontro bem forte na cidade.
Taperoá preserva diversos prédios históricos e essa sensação de "bem cuidado" perpassa pelas casas e pelos espaços públicos. No dia seguinte, logo cedo, fomos para água. O pier de atracação é chamada hoje de Ponte Nova. Além de receber escunas, saveiros e veleiros é um ponto de apoio para pescadores e produtores agrícolas.Quando chegamos, meu marido foi fazer o nosso tradicional reconhecimento e fiquei sentada no pier com os pequenos. Toquinho estava eufórico para cair na água e no meu primeiro descuido... se jogou! Vale salientar que cachorros naturalmente nadam, os nossos.. nem se fala! Mas a minha preocupação era que ele resolvesse nadar até a margem. A distância era muito grande para ele. A distância do pier até o topo da água era significativa, num ato instintivo me debruçei completamente na base para resgatá-lo e começei a chamá-lo : " Vem, papai"...Num gesto de confiança, ele me olhou e nadou rapidamente em minha direção, assim pude puxá-lo pela pontinha da guia. E assim, compramos os coletes salva-vidas para nossos dogs ;) Ufa! Uma dessas, nunca mais...



Apesar do episódio, a remada foi bem bacana! O local estava cheio de crianças: a brincadeira era pular do pier, mergulhar, nadar até uma marcação de madeira e voltar e novamente pular, num ciclo contínuo... que preocupações teriam? Que grandes pretensões teriam? Observando-os, entendi que nenhuma para ambas as perguntas. Se divertiam de forma pura e absolutamente verdadeira. Eles sabem, com toda certeza, a melhor forma de viver a vida. Alguém duvida? :)Conversando com locais, descobrimos que a água dali é poluída e só utilizam para banho quando a maré enche e "limpa" a mesma. É muito triste constatar que na maioria das cidades na região, não existe uma preocupação com a destinação do esgoto e nem tampouco com o seu tratamento.Fechamos a nossa visita, no ponto mais alto da cidade, onde descobrimos a secular Igreja de São Brás. De lá tivemos uma vista maravilhosa de toda a cidade e do braço do mar onde remamos, com a ilha de Cairu ao fundo.


Taperoá tem grande vocação para ecoturismo, a região abriga belíssimas cachoeiras e lagoas. Nos indicaram a Cachoeira do Paripe, que era a mais próxima e lá fomos nós! O acesso é pela BA-001, onde percorremos uma trilha de cerca de 1km. Essa bela cachoeira cai de uma altura de pouco mais de 1m , formando uma pequena lagoa na base. A área é cercada de verde e vimos algumas famílias aproveitando o local. Infelizmente, alguns, deixavam restos de comida e plásticos, mas enfim, como já sabemos, "onde chega o homem, chega a destruição".


Quando saímos dessa cachoeira vimos uma placa indicando outra chamada "Cachoeira do Tico Tinga".Decidimos seguir as placas e procurá-la. Rodamos por uma estrada de barro sem ver absolutamente nenhum sinal dela... Estávamos quase desistindo quando avistamos um enorme lixão. Não acreditando, nos aproximamos e vimos um casal de senhores "garimpando" o lixo, se é que é esse o termo adequado....sendo lixo, não acredito que se pode extrair algo de lá, mas enfim... quando nos aproximamos, percebemos que o que estávamos vendo era a "ponta do iceberg": tinha lixo hospitalar, crianças e animais perambulando ali.Foi de cortar a alma. Numa viagem em que vimos tantas coisas lindas e nos sentimos honrados todo o tempo em poder fazê-lo, é um choque ver que existam pessoas vivendo daquele jeito, ali, perto de nós.




Logo após o lixão tinha uma pequena comunidade de pouco mais de dez casas, absolutamente humildes: vivem reclusos de tudo! Perguntamos sobre a cachoeira, já com o nosso ânimo reduzido a quase nada, e foram alguns rapazes que estavam na porta de uma das casas que nos falou: " ihh, essa cachoeira nem tem mais! uma empresa comprô tudo aí e num cuida naum, virô tudo mato." Um minuto de silêncio. E Viva o Brasil! Todo mundo faz o quer, basta ter dinheiro. Revolta, tristeza, impotência... assim nos despedimos dos rapazes e seguimos viagem...
Decidimos subir direto até o Ferry-boat, passar por Salvador e subir rumo ao Litoral Norte. Foi quando na estrada, na entrada de um povoado, um garotinho franzino de cerca de 10 anos de idade começou a acenar freneticamente, quando paramos, ele abriu um sorriso e disse: " sou guia, vocês querem ver uma cachoeira bonita? Eu levo." Quem resiste? rs
Nosso amiguinho também se chamava Leo ( como o filho do pescador lá de Ituberá..) prontamente abri a porta para que ele viesse conosco no carro. Leo ficou branco, tinha pavor de cachorro! Os pequenos só queriam cumprimentá-lo e abanavam os rabinhos sem parar! Leo ficou igual a um papel e me relatou: " tem um pequenininho desse lá na minha rua e ele me mordeu." Entendendo o trauma dele, dissemos em coro, para tranquilizá-lo: " mas, esses só vão te lamber. ", Ele riu meio sem jeito, coloquei Toquinho no meu colo e seguimos para a Cachoeira do Tremembé. Seguimos na BA-001 até o entrocamento com a BR-030, ali perto, acessamos uma pequena trilha que nos levou topo dessa bela cachoeira, rodeada por extensos seringais.



Os pequenos se animaram com o barulho da água e definitivamente eles adoram água doce! Correram numa pequena ladeira até a base da cachoeira: nos molhamos, bebemos a água, uma delícia! Tudo sob o olhar atento do nosso "mini guia", que a propósito é também um excelente fotógrafo!
No final das contas, Leo já estava bem confortável com Lis no colo, deixamos ele novamente na entrada do seu povoado. Na hora do pagamento, ele disse sem titubear: " pode me dar o que vocês puderem. Eu estou na escola." Recompensamos nosso pequeno guia e nos despedimos. Ele sorriu e se foi...


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