Na estrada em direção a ilha, nas imediações de Nazaré, avistamos a placa que dava acesso a cidade de Maragogipinho, a terra do artesanato de barro.
Pegamos a "Estrada do Dênde", estava muito, muito ruim. Mas, por tudo que ouvíamos falar, da riqueza do artesanato local, valia o sacrifício! Chegamos a uma praça onde estavam localizadas todas olarias da cidade e foi difícil escolher por onde começar!
A variedade é enorme! Aliás, grande parte do artesanato vendido em Salvador e no famoso mercado Modelo, chega de barco, lá de Maragogipinho. Fomos na fonte do ouro!
São milhares de casinhas cheias de vasos, bonecas, panelas, placas, uma sequência enlouquecedora! Parecem vender os mesmos artigos, mas olhando com carinho perceberá artistas fantásticos, normalmente trabalhando lá mesmo, no fundo do comércio. Compramos panelas de barro maravilhosas, por R$10,00, R$13,00, R$15,00 no máximo. Tudo feito ali, a mão. Compramos também um casal de João e Maria, pintados a mão e uma baiana bem colorida, cheia de graça.
Depois de realizarmos um verdadeiro milagre para guardar tudo no carro, saímos felizes de lá e seguimos nosso rumo.
Voltando em direção ao ferry-boat nos deparamos com uma fila quilométrica. Como já estava anoitecendo, resolvemos dormir na ilha e seguir viagem no dia seguinte.
A primeira praia é a praia da "Gameleira", pela proximidade do ferry, resolvemos procurar uma pousada ali mesmo. As ruas já começavam a ter um "movimento diferente" : haveria a tal "Festa dos Cavaleiros". Depois de visitar pousadas que mais pareciam casas abandonadas de filme de terror, resolvemos ficar, em uma, que parecia ao menos por fora, mais tolerável.
O protocolo começou ainda na porta, com a resistência da gerente em aceitar os cachorros...alguns minutos de conversa, já muito cansados e famintos, conseguimos entrar.
A essa altura, a cidade já estava polvorosa, literalmente. Fogos de artificio por toda parte, nossos cães assustados e um clima bem esquisito na rua.
Já sentimos a pressão, subindo as escadas estreitas do local. Paredes sujas, piso nem se fala. Não entendemos, sinceramente, alguém sair de sua própria casa, para pagar e ficar naquele lugar. Tudo cheirava a mofo, tudo muito velho, sujo, mal cuidado. Sem contar que depois de acertamos tudo nos disseram que não teria café da manhã, pois " eles não faziam café dia de segunda-feira." Se bem que diante daquela cena, não tomar café seria uma grande sorte. Quando vi o quarto e o banheiro, sinceramente, não entendi porque tanta recomendações aos nossos cachorros. Sendo muito sincera, eles estavam infinitamente mais limpos que aquilo lá. Sem contar nos vergonhosos R$120,00 na diária! Como assim?
A verdade é que essa pousada reflete a realidade de boa parte da Ilha, pois o que vimos lá foi muito lixo e muita marginalidade. Só para constar, um funcionário muito cordial da referida pousada, aliás o único que salvava naquele cenário de horror, nos informou que na festa do dia anterior haviam 5 pessoas baleadas. É lamentável ver a situação de abandono em um local que passamos férias diversas vezes nas nossas infâncias. A praia em termos de beleza natural é muito linda, mas a situação do local é crítica. Acho que a Ilha faz parte da infância/ adolescência de praticamente 90% dos soteropolitanos. Estamos ouvindo falar da ponte de ligação Ilha-Salvador, será que revitaliza? Vamos aguardar...
No outro dia a situação da fila de carros no ferry-boat era infinitamente pior que o dia anterior, pensamos rápido e fomos por terra. E já que vamos por terra, vamos conhecer mais lugares! Esse é o lema! :)
Primeira parada, Maragogipe! Sempre ouvimos sobre o potencial de Maragogipe no que diz a respeito a turismo ecológico e turismo náutico. Prato cheio pra gente!
Geograficamente, o município situa-se exatamente no ponto de encontro do rio Paraguaçu com o rio Guaí, formando uma enorme lagoa conhecida como Baía do Iguape. Toda a região é cercada por manguezais e possui um atracadouro para embarcações de grande porte.
Haviam pequenas embarcações saindo para os povoados próximos, lembro que remávamos com platéia ...rs O visual do porto é muito bonito, embora tenhamos achado a cidade um pouco mal cuidada.
Seguimos estrada rumo a Cachoeira e São Félix. Essas cidades estão situadas a beira do Rio Paraguassu. Cachoeira inclusive tem o título de "Cidade Monumento Nacional" por suas igrejas, museus e todo acervo de arquitetura barroca. Por essa razão, tínhamos uma visão bem romântica dessas cidades históricas, porém o que vimos, infelizmente, foi sujeira e marginalidade.
A única coisa que podemos registrar foi a Imperial Ponte D. Pedro II (1865) construída sobre o Rio Paraguaçu. Passamos por ela ao transitar de Cachoeira para São Félix , que aliás são cidades irmãs. A imponente ponte é constituída de ferro e madeira importados da Inglaterra na ocasião,e representou na época uma grande evolução tecnológica e de engenharia para toda América do Sul.
Lembro de estarmos fotografando um protesto pichado no muro e um rapaz de meia-idade, com o rosto todo cortado se aproximou de nós pedindo dinheiro. A figura parecia estar sob efeito de drogas e no tom que falou, mais parecia uma ordem. Num súbito gesto de proteção, meu marido bradou para que ele se afastasse... assim, ele foi embora. Ficamos muito assustados com a situação. Minutos depois, pedíamos informação a um grupo de senhores sentados na praça e outro homem se aproximou do carro de forma muito suspeita.
Nesse clima de tensão, deixamos essas cidades e confesso que apesar de todo acervo arquitetônico e história que elas abrigam, não pretendemos voltar...
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Edificações barrocas, antiga estação de trem e Rio Paraguassu. |
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